domingo, 8 de junho de 2014

João no azul.

  Dalila, vizinha de João, estava linda quando ele a viu: ela regava as flores; cantava sobre amores enquanto prendia o cabelo no alto da cabeça.
  Sem exitar, João a fotografou -como vinha fazendo há alguns meses-. João era um maníaco.
  Vivia da utopia de querer o que não podia tocar, saborear.
  Ele era ingênuo, coitado. Nunca saíra do quarto a não ser para visitar os gigantes de jaleco.
  Ele era pequeno, coitado. Nunca pisara no chão sem seus guardiões azuis.
  Mais uma para sua coleção. Mais uma de Dalila. Só mais uma, João.
  A moça com seu regador em mãos, virou e o viu através da janela de vidro do outro lado da rua. Ela lhe enviou um sorriso e ele tentou projetar o mesmo gesto sem ser infeliz com isso.
  João segurava aquela câmera o mais forte que podia. Ele não sabia o que sentia, mas queria gritar, sair correndo e abraçar aquela moça.
  Onde estão seus gestos menino? Onde estão seus movimentos? Cadê as suas pernas? Eles não vieram, não foi? Eles te esqueceram, não é verdade? Sua face se contorce sem que você se perceba. E toda a tua dor já é mais quente que a urina caindo em teus pés.
  Fecha os olhos que eles chegaram, De azul, vieram te controlar. Te vestir novamente.
  Foi o que disseram. João era um maníaco e nem sabia o que era.

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