terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Canto de liberdade


Bem que eu poderia escrever mais uns versos distópicos
E inventar mais uns anexos do fim
Mas isso nem é sobre irrealidade
É sobre a realidade
Nua e crua
Forte e presente
Que não se faz ausente quando negada for
E que a negada tenha mais certeza da sua cor

Que meus frutos tenham a sorte do depois
Das guerras e lutas
Sem sabor de festa
Com ardor da rebeldia
Que sentencia o fim das regalias
Que queima o chão e clama a revolução
Isso é a chama do povo
É o the end caboclo
E o fim da escravidão

Estremece que o bonde chega
E tira cadeira de ditador
E põe na cadeia quem sempre procurou
Que os dias sejam menos cheios
De morte e cídios
Feminicídio, genocídio
É o que marca a pele e o temor

Te digo que fácil não foi
Fácil não é
Mas são pitadas de vitórias que comemoram a glória de um povo sem história na escola

Minhas linhas são tortas
Mas na real, se até deus que é deusa, também escreve assim
Quem sou eu pra querer ser perfeita?
Então que entendam minha letra e compreendam que barriga cheia não é prioridade por aqui
Essa é a sociedade
E nem adianta vim com esse lance de idade, o que mais tem é vó morrendo em fila na cidade

É todo dia corpo caído no chão
É todo dia manchetes garrafais
Ninguém aguenta mais essa agonia de não saber o dia de amanhã
E a manhã chegou
Com mais uma vítima do absurdo
Foi meu vizinho que rodou

O que resta é resistir pra lutar
Ninguém disse que Jesus iria te salvar, neguinho
Quero ver quem vai me levar
Quando me pegarem no flagra
Pedindo liberdade à Rafa Braga

Um comentário: